Abandono toma conta das paradas de ônibus em Belém
Cansado de esperar ônibus em uma parada sem cobertura, no bairro da Cidade Velha, em Belém, o empresário Raimundo Abdon, 76 anos, resolveu agir. Se reuniu com um comerciante da área e resolveu construir, sem nenhum recurso público, uma parada de ônibus estruturada com banco, cobertura e lixeira. A atitude do empresário, que exibe com orgulho a obra situada na praça do Arsenal, é um reflexo da realidade da maioria das paradas de ônibus na capital do Estado.
A Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob) informa que existem atualmente 1.490 paradas de coletivo no município, e destas, apenas 30% estão equipadas com abrigo. “O mais contraditório disso tudo é saber que, apesar de a nossa cidade ser conhecida pelo excesso de chuva e de sol, a maioria das paradas de Belém não possui cobertura. E, quando tem abrigo, a maior parte é precarizado”, criticou Abdon.
Segundo Gilberto Barbosa, diretor geral da Semob, a Superintendência de Mobilidade Urbana reconhece a falta de paradas de ônibus estruturadas em Belém e por isso tem criado projetos para reverter esse quadro. “Sabemos que o número de paradas equipadas está muito longe do ideal, por isso estamos organizando uma força-tarefa para mudar essa realidade. A Semob já concluiu um termo de licitação para reformar e construir diversos pontos de ônibus tanto em Belém quanto no distrito de Icoaraci, mas para isso precisamos aguardar todos os transmites legais para esse tipo de projeto”, explicou Barbosa.
Estudo
Segundo ele, a precarização da maioria das paradas de ônibus se deve principalmente à falta de um estudo preliminar para a implantação desses pontos. “As paradas de ônibus mais antigas foram construídas sem nenhum estudo técnico e por isso muita delas acabaram sendo danificadas por conta do solo, das condições do tempo e da própria urbanização. E é esse cenário que não queremos repetir nessa nova gestão de patrimônio”, ressaltou o diretor da Semob.
O descaso com as paradas de ônibus fez também com que muitas delas se tornassem residência para diversos moradores de rua em Belém. Vivendo há um ano com a mulher debaixo de um ponto de ônibus na avenida Gentil Bittencourt ao lado do cemitério da Soledade, o catador de alumínio Jonas Trindade, 38 anos, afirma que nunca enfrentou problemas com a prefeitura.
“No máximo, o que acontece, de vez em quando, é um guarda municipal aparecer por aqui para chamar a nossa atenção e depois tudo volta ao normal. A prefeitura não está nem aí para esse lugar. Se as paradas realmente fossem cuidadas pelos governantes, a gente jamais iria morar aqui. Se a gente mora aqui, é porque esses pontos de ônibus são abandonados mesmo”, afirmou o morador de rua.
A Semob diz que ainda não tem um prazo definido para a reforma dos pontos de ônibus na cidade, mas, segundo o diretor da entidade, a previsão é que as obras comecem ainda este ano.
(Diário do Pará)