Animais morrem e pessoas passam sede na região sudeste do Tocantins
Em Almas (TO) algumas famílias estão bebendo água com lama.
'Tocantins sem Sede' não sabe onde estão todas as vítimas da seca.
Com o período de estiagem, os moradores das áreas rurais da região sudeste do Tocantins estão sofrendo com a falta de água. Não chove na região há cerca de seis meses e os açudes e córregos secaram. O programa Tocantins Sem Sede, iniciativa do governo estadual, deveria levar água para as famílias que são vítimas da seca, mas a distribuição do recurso está deficiente.
Em Paranã, município a cerca de 392 km de Palmas, os moradores estão fazendo cacimbas para conseguir água, mas nem sempre a medida resolve o problema. As cacimbas são poços cavados no fundo de córregos e lagoas secas para tentar alcançar os lençóis freáticos. Em alguns pontos os moradores não encontram água nas cacimbas e quando encontram, a água está misturada com terra e não serve para o consumo humano.
Com a seca, os animais da região estão morrendo de sede. O vaqueiro Antonio Luiz Costa conta que a seca deste ano está pior do que nos anos anteriores e mostra a falta de água no córrego Matrinchã, perto de onde mora. "Esse córrego antigamente não secava tanto. Hoje está secando todo e nós estamos abrindo cacimbas dentro do córrego para os animais beberem. Antes não faltava água. É até triste ver do jeito que está agora", lamenta.
Em Paranã, o programa Tocantins sem Sede não está sendo eficaz. A dona de casa Domingas Rodrigues, conta que o caminhão-pipa que faz o abastecimento da região demora muito pra passar e ela e seus dois filhos precisam racionar para não ficar sem água. "Quinze dias que eles ficam sem trazer água e quando vêm trazem aquele pouquinho. Essa noite os meninos dormiram sujos para não faltar água", comenta a dona de casa mostrando o pouco de água que restou, cerca de meio galão.
O aposentado Rosalvo Alves acha que a água mandada pelo programa é imprópria para o consumo e mostra os reservatórios com a água cor de barro. "O que eles entregam para nós é esta aqui. É a que tem. Fazer o quê?", desabafa.
Na comunidade quilombola Baião, em Almas, município a 300 km de Palmas, também não chove há quase seis meses e a situação se repete. Na casa de uma das 14 famílias da comunidade há uma cisterna de sete metros de profundidade, mas ela está quase seca. Outro problema enfrentado pelos moradores é a falta de alimentos. Eles vivem de pequenas plantações e da criação de animais. Com a seca, as lavouras foram devastadas e diversos animais morreram.
O lavrador José Raimundo Pinto é um dos moradores da comunidade. Sua família está usando a água de uma lagoa quase seca para cozinhar e para beber. A água está suja de terra, mas ele insiste em usá-la. "É a única opção que tem. Ninguém pode ficar com sede, né?", justifica.
Três caminhões-pipa do Tocantins sem Sede deveriam passar três vezes por semana nas regiões onde as famílias da comunidade quilombola vivem, mas tem casas que não recebem água. É o caso da moradora Maria Pereira da Silva. Na casa dela, o caminhão-pipa passou pela primeira vez após seis meses de estiagem e o problema pode estar na má distribuição do recurso.
A Defesa Civil de Almas deveria controlar a distribuição de água no município, mas o órgão não sabe ao certo onde estão as famílias que sofrem com a seca. O coordenador da Defesa Civil do município, Samuel Marques, diz que o mapeamento feito pelo órgão não incluiu todas as famílias de Almas. "Fizemos um levantamento geográfico para detectar as famílias que precisam [de água] e algumas ficaram de fora. Todo dia a gente detecta seis ou sete famílias em cada rota feita", explica o problema.
Fonte: G1