Dilma abre hoje reunião de líderes mundiais com críticas à espionagem americana

24/09/2013 09:50
Síria, Irã e espionagem americana dominam Assembleia-Geral da ONU

A guerra civil na Síria, que já deixou mais de 100 mil pessoas mortas em dois anos e meio, deve dominar a reunião anual de líderes mundiais durante a Assembleia-Geral da ONU, que começa nesta terça-feira (24) em Nova York, EUA. Apesar disso, a presidente Dilma Rousseff deve usar o tradicional discurso de abertura — concedido aos presidentes brasileiros — para mirar um outro alvo: a espionagem norte-americana.

Apenas uma semana após adiar a viagem de gala que faria a Washington, Dilma vai se dirigir à grande parte dos líderes mundiais com um discurso crítico ao esquema de espionagem global montado pelos Estados Unidos para monitorar ligações telefônicas e e-mails.

O escândalo de espionagem foi denunciado em junho deste ano pelo analista Edward Snowden. ex-funcionário da Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA), que atualmente está asilado na Rússia. Documentos secretos vazados por Snowden revelaram que a agência espionou a presidente brasileira e a maior empresa do País, a Petrobras.

A atuação das agências de inteligência americanas no Brasil esfriou as relações entre ambos os países, obrigando Dilma a adiar a visita de Estado a Washington prevista para 23 de outubro.

A dúvida que resta é qual o tom será escolhido por Dilma para criticar a “bisbilhotice” de Obama — termo utilizado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para comentar o caso.

Há duas semanas, quando as denúncias de espionagem contra a Petrobras estouraram, Dilma afirmou que, se for comprovado, o caso confirmará que “o motivo das tentativas de violação e de espionagem não é a segurança ou o combate ao terrorismo, mas interesses econômicos e estratégicos”.

Em seu discurso diante dos líderes mundiais, também se prevê que a presidente critique a política monetária dos Estados Unidos e seu impacto nas moedas nacionais. A mandatária deve ainda declarar sua rejeição a uma intervenção na Síria sem apoio da ONU.

Tema do dia

A guerra na Síria, aliás, deve ser o principal tema dos debates. O conflito, que deixou mais de 100 mil mortos e 2 milhões de refugiados em 30 meses, é o "maior desafio" da comunidade internacional, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, às vésperas da assembleia.

Os debates na sede da ONU e as reuniões paralelas devem focar o acordo alcançado há dez dias, em Genebra, entre Estados Unidos e Rússia, esta última aliada e protetora do presidente sírio Bashar al Assad.

O presidente americano, Barack Obama, que também discursa hoje, ameaçou a Síria recentemente com uma intervenção militar em represália a um ataque com armas químicas atribuído ao governo de Assad, embora tenha suspendido esta opção após um acordo com a Rússia para que Damasco destrua seu arsenal deste tipo de armamento.

Este plano russo-americano poderia levar, esta semana, à aprovação da primeira resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre a Síria, depois de três tentativas bloqueadas pelo veto de Moscou.

Além disso, Ban organizará na quarta-feira (25) um almoço com chanceleres das cinco potências (EUA, França, Reino Unido, Rússia e China) e, no sábado(28), se reunirá com os chefes da diplomacia americana, John Kerry, e russa, Serguei Lavrov, com o objetivo de fixar uma data para uma conferência de paz, que pode colocar frente a frente governo e oposição sírios.

Outro atrativo da assembleia será a estreia no plenário do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em meio a uma forte controvérsia com os Estados Unidos pela suposta negativa deste país de conceder vistos a membros de sua delegação e a problemas para utilizar o espaço aéreo americano em viagem oficial à China.

A outra grande atração do plenário da ONU é a primeira apresentação do novo presidente iraniano, Hassan Rowhani, que tenta convencer o Ocidente das boas intenções do seu país no campo da energia nuclear.

Rohani, que substituiu o polêmico Mahmud Ahmadinejad, poderia, inclusive, apertar a mão de Obama, um avanço entre dois países, que não têm relações diplomáticas desde 1979.

Fonte: R7