Em Monte do Carmo fiéis revivem tradições européias
Em Monte do Carmo, município histórico do Tocantins, a 89 km de Palmas, julho é mês de devoção. Os Festejos do Carmo, como é conhecido, é o momento de homenagear Nossa Senhora do Rosário, o Divino Espírito do Santo e Nossa Senhora do Carmo. E um dos pontos altos da festa é nesta quarta-feira (17), quando acontece a Caçada da Rainha.
Realizada há cerca de 200 anos, a Caçada da Rainha é uma tradição cultural e familiar como conta a odontóloga Mayara Pedreira Lopes, de 25 anos, que será coroada este ano. “Há dez anos coloquei o meu nome para ser rainha, na época em que minha mãe foi. Coloquei por tradição e devoção”, conta ela, dizendo que sua família é católica atuante.
“O que mais me tocou foi quando eu vi uma senhora doando três ovos caipiras para a festa. Você pode doar muito dinheiro, mas não adianta só doar, é preciso levar o nome de Nossa Senhra do Rosário”, destaca Mayara.
Há um ano participando dos festejos da cidade, como os giros da Folia do Divino Espírito Santo, Mayara diz que 80% do que foi arrecadado para a festa é doação da população. “A festa é feita com o dinheiro do povo. A população é muito devota, fiel. Espera o ano todo por essa festa”, ressalta.
Mayara diz que, este ano, o rei é Danillo Cardoso, amigo de infância. "Ele sempre me dizia que gostava de ir nas folias e eu coloquei o nome dele escondido. Hoje estamos juntos."
O Festejo
A programação da Caçada da Rainha está prevista para às 15h. O rei, a rainha, casais de cavaleiros e damas revivem as antigas caçadas européias. Acompanhados por uma multidão, ao som dos tambores - ritmo que simboliza a festa da rainha - as pessoas seguem até a saída da cidade. Lá, é servido bolo, café e, em seguida, todos retornam pelas ruas do município dançando e louvando à Nossa Senhora do Rosário, até às 18h.
À noite, rei e rainha seguem até à casa da rainha no ano passado, Marinalva Barros, e os dois casais seguem até a Igreja onde será feita a coroação e celebrada uma missa. A festa termina na casa da nova rainha, onde são servidos bolos. Na quinta-feira (18), rei e rainha saem junto às manifestações do congo e taieiras até à igreja, onde acontece a missa em homenagem à Nossa Senhora do Rosário. No final, novamente ao som dos tambores, todos seguem para a casa da rainha, onde acontece o baile.
Marinalva, que vai passar a coroa para Mayara, conta que a grande responsabilidade do rei e da rainha é fazer com que a festa seja realizada. " O rei e a rainha não fazem a festa sozinhos, mas é preciso ter o poder de articulação. É uma tradição na comunidade, mas é preciso ter o chamado."
Ela conta ainda que, além de fazer a festa acontecer, o rei e a rainha de Nossa Senhora do Rosário são os protagonistas de uma tradição secular. "A festa é um grande patrimônio cultural e o rei e a rainha representam esse poder, essa força da comunidade."
Cartilha
As manifestações religiosas em Monte do Carmo deram origem à cartilha “Escrevendo história e salvaguardando a festa de Nossa Senhora do Rosário”. A publicação foi escrita e organizada pelas professoras Marinalva Barros e Noeci Carvalho, com recursos do Prêmio Mestre Dió 2011, de Apoio a Grupos de Culturas Populares, promovido pela Secult – Secretaria de Estado da Cultura, e Funcult – Fundação Cultural do Estado do Tocantins.
De acordo com Marinalva, a ideia da cartilha é reunir o conhecimento sobre a festa de Nossa Senhora do Rosário que, segundo ela, é cheia de detalhes. "É um instrumento para reunir todas as informações, para divulgar e dar continuidade a essa manifestação cultural."
Monte do Carmo
Monte do Carmo fica a 89 km da capital do estado, Palmas. O município, com uma população estimada em seis mil habitantes, está localizado na região central do estado. É um dos caminhos para o Jalapão e tem acesso por rodovia asfaltada.
Fonte.: G1