Racistas jogam bananas em ministra negra da Itália
Cécile Kyenge já sofreu de violência racial desde que assumiu poder
Após ser comparada com um orangotango pelo vice-presidente do Senado, Roberto Calderoli, a ministra de Integração da Itália, Cécile Kyenge, de origem congolesa, foi alvo de outro ato de intolerância e desprezo na noite desta sexta-feira (26) quando foi atingida por duas bananas lançadas por racistas do movimento Força Nova, da extrema direita.
Os fatos ocorreram em uma festa do progressista PD (Partido Democrata), o mesmo do primeiro-ministro Enrico Letta, na cidade de Cervia, no nordeste do país, informou neste sábado (27) a imprensa italiana. Um desses integrantes da Força Nova, que já tinha aquecido o ambiente com uma manifestação na última quinta-feira (25), lançou duas bananas em direção ao palco em que a ministra discursava, embora sem atingi-la fisicamente. Sem dar importância ao gesto, Cécile usou o Twitter para comentar o ato.
— Com tantas pessoas morrendo de fome por causa da crise é triste desperdiçar comida assim.
Cecile Kyenge, primeira mulher negra a integrar governo italiano
Dado o alto nível de crispação gerado na extrema direita em torno da primeira ministra negra da Itália, a polícia estava alerta em relação à possíveis ataques contra Cécile, mas, mesmo assim, não conseguiu evitar essa agressão.
— Havia um grupinho de opositores, mas ninguém viu. Saíram logo em seguida.
Após ser alvo de ataques, ministra italiana diz ter orgulho de ser negra
"A ministra não comentou o episódio de modo particular porque é uma pessoa educada", afirmou os jornalistas Paola de Micheli, do PD, que estava presente no momento do ato. Um dia antes, na quinta-feira, no mesmo local da festa do PD, militantes da Força Nova também colocaram três bonecos sujos com tinta, que simulava ser sangue, ao lado de panfletos contra o plano do governo italiano de conceder nacionalidade aos filhos de imigrantes nascidos na Itália. Segundo os militantes da extrema direita, "a imigração mata".
O lançamento de bananas se soma aos últimos episódios ofensivos dos quais a ministra italiana já foi vítima, a começar pelo comentário lançado pela ex-conselheira da separatista Liga Norte, Dolores Valandro, o qual valeu sua expulsão do partido além de uma condenação de 13 meses de prisão e três anos de inabilitação por instigação a atos de violência sexual por motivos raciais.
Na sexta-feira (13), o vice-presidente do Senado, Roberto Calderoli, também da Liga Norte, gerou uma grande polêmica no país ao comparar a ministra negra com um orangotango. EFE mcs/fk